Introdução de um livro inacabado

10:02


Caminhar. Era tudo que ela precisava. Caminhar sem direção, sem sentido. Quando caminhava desse jeito, tudo podia sentir. Tanto externa, quanto internamente. Podia sentir o cheiro do ar, o vento tocar todos os pontos de sua pele. Podia sentir seus músculos se moverem e perceber que eles existiam.
          Tais momentos eram raros. Estava sempre em meio a muito barulho, percebendo tudo e todos, se esquecendo de si. Caminhando sozinha em meio às árvores se percebia. Sentia-se viva, dona de si e de seus passos. Poderia parar agora, depois de um pouco de prazer, e voltar para a pilha de afazeres que lhe esperava. Mas não. Parou, balançou a cabeça e pôs-se a correr.
          O vento corria contra ela e tudo se tornava mais mágico. Nada podia pará-la. Nada? Não, nada. Agora sentia seus músculos mais intensamente. Em especial o coração. Batia desesperadamente tentando transmitir o oxigênio que começava a lhe faltar, fazendo com que ela abrisse a boca como se estivesse a engolir grandes porções de vento.
          As pernas continuavam, ágeis. O coração trabalhando. A boca aberta. Uma lágrima surgiu em sua face. A boca aberta. Iria gritar? Outra lágrima. Precisava gritar. Mais lágrimas. Não gritou. Ajoelhou-se ali mesmo. Muitas lágrimas agora.

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