Introdução de um livro inacabado
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Caminhar. Era tudo que ela precisava. Caminhar sem direção, sem sentido.
Quando caminhava desse jeito, tudo podia sentir. Tanto externa, quanto
internamente. Podia sentir o cheiro do ar, o vento tocar todos os pontos de sua
pele. Podia sentir seus músculos se moverem e perceber que eles existiam.
Tais momentos eram raros.
Estava sempre em meio a muito barulho, percebendo tudo e todos, se esquecendo
de si. Caminhando sozinha em meio às árvores se percebia. Sentia-se viva, dona
de si e de seus passos. Poderia parar agora, depois de um pouco de prazer, e
voltar para a pilha de afazeres que lhe esperava. Mas não. Parou, balançou a
cabeça e pôs-se a correr.
O vento corria contra ela
e tudo se tornava mais mágico. Nada podia pará-la. Nada? Não, nada. Agora
sentia seus músculos mais intensamente. Em especial o coração. Batia
desesperadamente tentando transmitir o oxigênio que começava a lhe faltar,
fazendo com que ela abrisse a boca como se estivesse a engolir grandes porções
de vento.
As pernas continuavam,
ágeis. O coração trabalhando. A boca aberta. Uma lágrima surgiu em sua face. A
boca aberta. Iria gritar? Outra lágrima. Precisava gritar. Mais lágrimas. Não
gritou. Ajoelhou-se ali mesmo. Muitas lágrimas agora.
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