Poderia ser uma casa igual a cem mil outras. A base é a mesma: tijolo, concreto e tinta. As paredes mudaram de cor muitas vezes. O telhado também mudou. Novos cômodos nasceram.
Mas, antes disso tudo, a casa era rosa. O chão era vermelho em alguns lugares e verdes em outros. Na frente da casa, tinha uma área que, para mim, no auge da primeira década de vida, era o mundo inteiro. Aliás, criei muitos mundos ali.
Na parede da porta do quarto que eu dividia com mais três, um monte de tracinhos registraram, ano após ano, nossas alturas aumentando.
Às vezes, o chão era gelado. Outras vezes, a sala era muito quente. Foi em uma mesa redonda de madeira naquele ambiente, inclusive, que escrevi minhas primeiras histórias. E, naquela casa, vivi muitas outras.
Foi ali que me apresentaram pessoas que vinham de longe, de lugares que eu só ouvia falar. E era ali que eu esperava minha mãe chegar para contar outras histórias. Foi ali que vi, pela primeira vez, alguém que disseram ser meu irmão. Foi ali, também, que entendi o que isso significava.
Só agora percebo o quanto aquele lugar faz parte de quem eu sou. Como se eu fosse sangue e oxigênio, mas também tijolo e tinta.
Por fora, pode parecer uma casa como outra qualquer.
Por dentro, é coração.