O homem das balas de gengibre
16:25Existiu, certa vez, um homem que queria explodir um prédio com balas de gengibre. Seu problema? A forma como a prova da OAB funciona. Pelo visto, este sistema o afetou profundamente, assim como a Joana, que jurava ter passado em medicina e frequentava todas as aulas fielmente, ainda que seu nome não constasse em lugar nenhum.
Acordo às 4:47 da manhã e lembro-me do homem que, no dia anterior, estava no mesmo ônibus que eu. Entrou pelas portas traseiras, falando inglês. “Ladies and gentlemen, good night!”. E então anunciou que estava vendendo balas de gengibre. Era um vendedor qualquer, em um dia qualquer, entrando em um ônibus qualquer. Só percebi que se tratava do tal homem da bomba de gengibre minutos depois, quando passamos por um outdoor e ele começou a criticar a não-validade de seu diploma na cidade do desemprego (palavras suas), motivo pelo qual tinha que vender balas.
E então começou a apresentar seus argumentos quanto à injustiça da tal prova. Usou como exemplo a questão 43 da 15ª edição do exame da ordem. “Um absurdo! A gente aprende uma coisa na faculdade e aí eles dizem que é outra”. E então se apresentou de forma indireta, fazendo com que vários passageiros se virassem para olhá-lo, reconhecendo-o: “aí quando o cara vai lá, dizem ‘ah, mas é bala de gengibre’”.
Domingo tem prova da OAB e ele ameaçou: “não passem na Paralela”.
Quando ele desceu, abri o Google para ter certeza que era o mesmo cara. Tentei fixar sua fisionomia na memória sem encarar muito. E era. Seu nome, descobri, é Frank.
Frank quase passou despercebido, como todos os dias e tantos outros.
Nem sequer vendeu uma bala.
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