Parabains

18:12

Este post foi escrito por Marcos Adriano quando colaborador do Entre Sujeitos e Verbos


Foto: Reprodução
O ser humano é um bicho que se destaca dos outros na natureza por um motivo simples: ele é extremamente bizarro. Não naturalmente bizarro, como um inseto peludo típico da América do Sul ou um peixe amorfo luminoso das profundezas do Oceano Pacífico. O homo sapiens escolhe ser estranho e assume comportamentos que no fundo, lá no fundinho, não têm explicação lógica. Certeza, quando os perucas-brancas da taxonomia resolveram classificar tudo o que anda, rasteja, nada e avoa (por volta de mil setecentos e bolinha), levaram em consideração um dos aspectos mais extraordinários desta racinha: o ser humano é o único animal, entre todos os outros animais, que comemora aniversários.

Recentemente estive muito próximo dessa experiência e mesmo depois de ‘festejar’, receber as felicitações, etc., não consigo entender algumas peças desse evento. E acredito que nem Lázaro possa nos ajudar a compreender. O importante é que tal qual o mistério da morte, talvez nós nunca consigamos decifrar totalmente - em vida - o enigma do “completar mais uma Primavera” vinculado aos “parabéns”. Porém, como seres racionais, a gente pode discutir sobre a profundidade filosófica da coisa.

Primeiro: temos que deixar claro o real significado dessa palavra. Geralmente a utilizamos para cumprimentar uma pessoa que realizou tal feito. Os parabéns servem para reconhecer o resultado de seu esforço. Ok, ok. Agora, diga-me (ó, Lázaro) por que diabos usamos isso nos aniversários também? Etimologistas afirmam que o sentido original do termo era o de desejar coisas boas a alguém (inclusive implícito nos -béns mandados para-). Mas é inadmissível que essa palavra tenha dois sentidos tão diferentes porque confunde o receptor!

Eu, por exemplo, recebi vários ‘parabéns’ no Facebook e pessoalmente. Agradeci ou apenas curti a postagem por preguiça de escrever ‘obrigado’ em todas, mas ainda não compreendo. Parabéns por que, crianças? Nascer nessa data há duas décadas? (Falem com meus pais, gente, o mérito não é necessariamente meu). Em casos onde a situação se inverte, o procedimento para não parecer incoerente com o maldito vocábulo é postar no mural do aniversariante um discreto: “parabéns por ter nascido”... O truque consiste em deixar o sujeito saber por qual motivo ele deve se sentir orgulhoso, mesmo que não faça sentido.

Ainda que esse problema possa ser contornado, resta um outro incômodo: ‘parabéns’ é o plural desse treco ambíguo. O singular é (e por que, meu Deus?) PARABÉM. Inclusive o Word não tacha de vermelho o ‘parabém’; mais uma evidência do lado sombrio desse substantivo suspeito. Então como fazemos? Como escolher quantos disso nós ofereceremos? Por afinidade? Uma amiga íntima recebe a quantidade de 10 parabéns, enquanto um colega recebe 6 e aquela inimiga recebe apenas um pobre, solitário e feio “parabém” por educação? A reforma ortográfica veio e foi embora, amigos. Então me respondam: ficaremos parados esperando uma que mude coisas realmente importantes? Não? Se você é um dos meus e já se encontra abrindo uma nova aba para criar uma petição no Avaaz e reverter essa situação, ficam aqui minhas centenas de parabéns.

Este post foi escrito por Marcos Adriano quando colaborador do Entre Sujeitos e Verbos

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2 comentários

  1. Lindo, te amo. PARABÉM (pq você é meu inimigo), pelas palavras. Bjs

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